quinta-feira, 8 de julho de 2010

Rótulo - o código de barra das bailarinas?

O ser humano tem necessidade de classificar e ordenar as coisas por natureza. O cérebro processa melhor a informação quando esta já vem organizada e sistematizada. Sendo assim, é comum olharmos para alguém e atribuir uma característica específica para essa pessoa, adjetivos como: simpática/antipática, sincera/falsa, bonita/feia, etc. Contudo, repetidas vezes nos deparamos com rótulos que a sociedade inventou para generalizar o que é tão singular. Rótulos como “patricinhas”, “playboys”, “emos”, “manos”, “punks”, “funkeiras”, “góticos” e etc. E ainda aqueles ofensivos: “perdedor”, “mandona”, “bêbado”, “viciado”, etc. Mas até que ponto um modo de se vestir ou a ideologia de alguém define quem essa pessoa realmente é? Será possível em uma palavra sintetizar tudo o que esse ser humano pode nos mostrar e oferecer?

Cada pessoa é atravessada por milhões de opiniões, pensamentos, questões, vivências e experiências tão diversas que se torna impossível encaixá-lo em um padrão.

Dentro dos rótulos, esquecemos o que é real e o que é ilusório, ou seja, não sabemos mais o que o rótulo realmente representa nem o que representava inicialmente porque criamos características para ele de acordo com os nossos próprios conceitos e preconceitos. Preferimos rotular para saber o que esperar de determinada pessoas ou situação em que nos encontramos, mas essa falsa sensação de seguranças poderá e com certeza um dia irá, nos puxar o tapete. As pessoas não podem ser sistematizadas, medidas. É simples: você não é o que você veste, o que você come, o que você vê, o que você fala. Não, você também não é só o que você sente, nem o que você pensa. Você é um conjunto de tudo isso e mais um pouco, portanto rotulá-lo é tentar medir o imensurável. É limitar o ilimitado.

Há um tempo venho pensado sobre esse assunto meio controverso dentro da Fusão em Dança do Ventre... Recentemente temos visto surgir diversos "estilos" de Fusão e Tribal... Independente do estilo de cada um, o que não estou pondo em discussão aqui, gostaria de tentar entender por que as pessoas tem necessidade de se rotularem tanto. Aquela pessoa é aquilo, essa aqui é tal coisa... Aquela dança Tribal Cabaret Super Master Fusion, essa dança Tribal Dark Mega Gothic Fusion...

Eu acredito que a Dança, sendo uma forma de Arte, deve ser respeitada em sua essência... Sem precisar ser o tempo toda explicada, medida, qualificada, quantificada.

Eu sinceramente não sei que Estilo de fusão ou até de Tribal eu faço, até porque sou meio Raul Seixas sabe, metamorfose ambulante, e sinceramente, não me preocupo muito com isso... E eu estava discutindo isso com uma amiga, estávamos conversando sobre a volta das dancers famosas (Rachel Brice, Zoe Jakes e, pasmem, até a Asharah super Dark) ao Estilo Cabaret Tradicional, a Dança do Ventre mesmo. Eu então comentei que aí deixava de ser Tribal, que seria Dança do Ventre mesmo com as roupas diferentes, porque então dizer que faz Tribal? E essa amiga minha falou "Mas elas não dizem que dançam Tribal. Elas são dançarinas e ponto." Ou seja, elas não se rotulam.

Então porque dependemos tanto de classificações e medidas para nossa dança? Você é a mesma pessoa que era quando começou a dançar? Se o seu estilo se modificou, evoluiu, porque você deve se manter presa a um rótulo ou classificação inicial?

Eu acredito que, nós, bailarinas, não devemos defender um Estilo específico ou técnica o tempo todo, e sim, devemos nos importar em defender a dança como um todo. Praticar e ter aulas de qualquer estilo que possa nos acrescentar algo e ter em mente que a dança deve expressar o que sentimos e não refletir as nossas vaidades e pretensões. Devemos dançar para expressar, comunicar. Nos concentrar e conectar com as emoções mais profundas e verdadeiras que possamos sentir, para que o público reconheça a Arte no que estamos fazendo, e não apenas um corpo dançando.

Afinal, rotular é limitar.