Recentemente eu tenho refletido muito sobre honestidade na dança. Não não estou falando de enganar ou não as amigas tribais, nada a ver com isso. Estou falando de ser honesta na dança, com o público, com quem te vê dançar.
Dando aula eu me peguei falando sobre como eu gosto de improvisar. Eu nunca coreografo meus solos porque eu não acho – olha essa palavra de novo! - honesto. Não estou defendendo o improviso, condenando os solos coreografados, nada disso! Acho que se essa (coreografia) é a forma pela qual você consegue dançar e se expressar, perfeito! E também dá para combinar momentos coreografados com improvisados, sem problema... Mas eu gosto da sensação de subir no palco e deixar a música falar comigo e o meu corpo falar para o público. Mesmo que no momento ele só esteja expressando nervosismo! Gosto da sensação do inesperado, do novo, da euforia, da troca com aquele público que me vê naquele momento, porque isso varia tanto! Mas não estou sendo completamente honesta: eu não consigo coreografar meus solos, eu já tentei, mas quando chega na hora eu faço tudo diferente... Bom, improviso e coreografia dá assunto para outro post, falamos disso depois... hehe.
Na Argentina, nos workshops da Mardi Love, me lembro claramente dela falando sobre como é importante mesclar momentos de coreografia com improviso nos nossos solos, de como é importante se permitir. Me lembro também da Mira Betz dizendo que o palco é um lugar experimental, onde podemos exercitar a nossa criatividade. E que devemos sempre aproveitar o que estamos fazendo. Me lembro de outra vez falar com a Ariellah sobre como é importante estar no palco quando se está dançando, realmente estar ali naquele momento, e não pensando na conta que vai vencer, no figurino novo ou no namorado...
Pois bem, com duas alunas minhas fiz a seguinte reflexão: “Como desenvolver seu estilo próprio e mostrá-lo no palco?” Como mostrar o que você é, o que você quer dizer, transmitir, expressar, desenvolver de uma maneira clara, na qual sua mensagem seja perfeitamente compreendida?
A resposta para mim é clara e simples: seja honesta. Honesta consigo mesma e com o público. Muitas dançarinas tentam fazer no palco coisas que ainda não tem habilidade para fazer. Grandes performances, shows de flexibilidade, passos elaboradíssimos. Você não precisa disso, você já é você. É única. Insubstituível. Portanto, seja honesta. Mostre para o público o que você SABE fazer. O que está em você. O que está completamente absorvido pelo seu corpo e reside em sua memória muscular. Não queira impressionar, não queira impactar. Dance sendo você, apenas você.
Eu percebi que minhas melhores performances foram aquelas que dancei despreocupada. Que simplesmente curti a música e o momento. Agora tento subir no palco e dançar o que me vem à cabeça e aos pés. É simples. A música lhe diz o que fazer.
Lógico que é extremamente difícil esvaziar a mente e deixar-se levar, ninguém está discutindo isso. Mas tente, experimente! Não se preocupe com a técnica no palco, o momento de treinar e se preocupar foi antes, nos ensaios e treinos, agora no palco, liberte-se!
O mais importante é que você não precisa da aprovação do público para experimentar, criar, para expressar quem você é. Você pode fazer isso a qualquer momento. Por que deixamos de nos revelar no palco? Por que nos escondemos embaixo de búzios e penas? Mostre quem você é e o que você tem a dizer. Não duvide da capacidade de expressão da sua dança. As pessoas percebem quando há algo a ser dito por quem dança. E as pessoas irão reconhecer o quão especial você pode ser.
4 comentários:
Concordo contigo. Muitas bailarinas se preocupam em impressionar o público e não em "curtir" o palco, as luzes, a platéia, a dança...não se dão conta que quando curtem, o público também curte!
Claro que devemos estudar as técnicas aprendidas em aulas ou nos vídeos, a origem dos passos, os conceitos! Mas na hora de improvisar, temos que relaxar e deixar que a memória muscular faça o resto.
Não acho que improvisar seja fácil, pra muita gente é uma tarefa praticamente impossível. Eu por exemplo sou muito, muito, muuuito inibida e ainda bastante insegura. Aquele medo da música começar e não saber o que fazer, de sair do ritmo, da roupa cair, de fazer cara de "putz e agora?"... acho que improviso também requer treino. Foram inúmeros workshops, onde as professoras aconselharam que façamos um setlist de músicas que gostamos e que deixemos os passos fluírem e, se possível, deixar uma filmadora registrando este momento (tá eu sei que dá vergonha). Mas esta é uma boa maneira de tentar ser "honesta" consigo e posteriormente para o público.
Agora tenho que defender a classe iniciante! As primeiras apresentações costumam ser bem tensas e alguma coisa sempre fica fatando ou sobrando. Encontrar o "estilo próprio" é importante mas nem sempre vem logo de cara. E acabamos usando alguém que admiramos como inspiração, acho que é normal notar alguns combos, trejeitos, tentativas de figurinos etc.. de bailarinas famosas em uma outra iniciante (ou não, rs).
Tipo, você falou tudo na seguinte frase:"A música lhe diz o que fazer."
É assim que deve ser^^ Sentir a música sussurar em seu ouvido. Vosê simplesmente sentir a música,e automaticamente, sem pensar e, ao mesmo tempo, quase sem perceber que sentiu, dançar, traduzir com seu corpo, verbalizar a sua essência, o seu ser na figura dançante em cima do palco. Cada passo é uma frase, uma exclamação, uma vírgula, uma reticência. Sua combinação forma o corpo do texo, a sua estória, com todo seu lirismo, todo seu jeitinho, suas imperfeições, suas vitórias, seus sentimentos e emoções. A dança se transfigura. Ela não tem um corpo palpável. Um corpo que vemos; ela transcede aquela pessoa que ali nos embala em seu mundo dançante. Simplesmente o público o verá, não com os olhos da razão, mas sim com os olhos do coração.
me inspirei hoje, hein!hauhauahu Acho que é o sono xDD
Mas ainda tõ processando as idéias do seu post^^ Se pintar mais alguma coisa na minha mente doida eu venho aqui nos comentários de nov...porque agora tô quase caindo de sono e não ando processando bem as idéias xDD
bjs!!
Seu post só me conseguiu fazer lembrar do dia do Hafla lá na Argentina ano passado. Lembro que você me deu força usando a mesma linha de raciocínio que seu texto de agora, e posso te assegurar que você foi uma das mãos que me empurrou pra dançar.
A insegurança de estar há um ano sem dançar somado com o fato de que a Mardi e a Mira estavam lá, de olho em tudo, foi agoniante! Precisei de algumas cervejinhas também, é verdade! hehehe. Estava há dois meses pensando em uma coreografia para a música e não saia, simplesmente NÃO me vinha nada! Daí dias antes do Hafla pensei em fazer uma coreografia base, com tempos principais e entre eles me deixar guiar. Mas na hora do "vamos ver" eu esqueci de tudo!!! E quem disse que aquilo me deixou nervosa? Estranhamente eu estava calmíssima bem na hora. Resultado que foi o momento de mais liberdade artística que tive, foram aqueles 3 minutos exatamente!
muito muito obrigada pela força Gabi!!!
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Ahhhhhhh Anaaaaaa!! que fofa!! S2
Poxa se consegui te ajudar, um pouquinho que seja, eu fico imensamente feliz!! Eu mesmo estava super nervosa de dançar aquele dia pra Mardi e Mira e eu estava doente, muuuito doente... Eu odiei o que eu fiz, mas recebi um feedback fantástico da Mira sobre a minha performance (coisas muito positivas e coisas bem negativas) que me ajudou imensamente como pessoa e artista!
Acho que às vezes a gente tem que por a cara a tapa mesmo, ousar, acreditar e... se soltar!!
bjoo lindonaaas, obrigada pelos comentários! \o/
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